Fernado Pessoa com Pessoas

Eu vi Pessoa na noite silenciosa
Cobrir-me com palavras
de dor , vazio e amor
senti me ansiosa.
Fui a janela espreitei uma estrela lacrimosa.
Uma lágrima cintilante
penetrou em meu quarto e deixou minha mente mais brilhante.
Meu ser então ficou radiante.
Tomei a caneta e papel;
O amor chorou
a dor
daquele vazio
que Pessoa deixou.
E eu encolhi, tal qual feto no ventre materno
sem compreender aquele sentimento terno
que Pessoa teve pelas pessoas.
E nessas pessoas
Pessoa criou poetas
Sem dor,
Sem vazio
Sem estrelas
Sem Lua
Sem sol
Mas deixou a metafísica explicita
na natureza das coisas
sobre coisas infindas
vindas
D’ alma,
Que na calma da noite
aflora acácias
espalhadas ao chão e num quarto qualquer uma donzela a contemplar:
Por exemplo:
Antonio, Maria, Isabel e João
e tantos outros que aqui estão;
Na Arcada, No Martinho, No Terraço!
Ah! Pessoa que fizeste aos Lusitanos?
Deixaste o legado das palavras
a dançar no papel para homenagear
Teu nascer;
Teu viver;
Teu morrer;
Teu renascer!!!
by Zeldi Isabel Lemos 09/2011









































Friday 19 March 2010

Meu corpo é uma gaiola


A casa que vejo é cheia de móveis que não quero mais, mas não consigo desfazer me desses, pois cada um com sua historia. Ora - umas que me são caras - ora outras que custaram tão caro. As vezes, mudo os móveis de lugar para ver se as histórias embaralham, e eu penso que assim elas não me atrapalham; elas estão muito bem encaixadas. Sei que foste tu que as fizeste assim.
Creio que sabias que eu não poderia jamais desorganizá-las, bem como, também, sabias que, nunca, delas eu me livraria. Elas estão aqui.
É bem verdade que foste muito inteligente, e eu termino por admirar-te por ter tido tamanha astúcia em dispô-las dessa forma. Um dos moveis, aquela estante, cuja muitas vezes, eu com o pano do pó, movimentava meu corpo freneticamente, para lá e para cá, e tu a observar-me. Ah! Lembro me bem disso. Os movimentos eram delicados;
-Tu me achavas delicada -, e dizias - : que as curvas de meu corpo parecia embalar ao som de uma melodia, parecia até que o silêncio cantava só para eu contorcer-me e isso era a melhor paisagem que teus olhos já haviam apreciado.
Eu penso que você criou cada história que cá dentro está, pois eu não tenho historias minhas mais. Não há vestígio algum de minha existência antes de ti. Eu até tento buscar, mas só há tu, nada mais que tu. Como pode ter sido tão magnânimo mais que Deus, se é que existe um Deus, pois, depois de ti não houve mais Deus nem Diabo, só tu. Sento me àquela poltrona, em pele, arquitectada o suficiente para que os braços de qualquer ser que ali posem estejam bem confortáveis.
Olho ao redor, o estado em que me encontro – inerte - , de repente ouço seus passos, meu coração bate num frenesi que mal me aguento para controlar a respiração. Mas essa quimera logo se desfaz, e a realidade vem. Respiro fundo, volto a ajeitar outro móvel. Ah! Esse é aquele que fomos no antigo armazém da baixa comprar, ainda não havia pegado fogo. Tu não querias, pois achavas dispensável e eu a fazer beicinhos, então tu não resistias e, terminaste por comprar. Era estranho porque tu sempre estavas a satisfazer-me, e por outro lado essa tua atitude incomodava-me. Talvez gostava de receber um não, mas tu, mesmo contrariado, cedia aos meus caprichos.
De modo que essas mobílias todas cá dentro aperta-me o coração. Eu não as quero mais, mas elas estão presas a mim nessa gaiola. A cada grade que corro os dedos sinto que elas são frágeis e não com muita força eu poderia as romper. Ora quero, ora não. Porque há uma liberdade que almejo, no entanto não sei como lidar com ela, então, um outro lado meu não tem coragem de rompê-las.
Ah! Tenho arrastado esses móveis por muitos anos.

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